quinta-feira, 26 de junho de 2008

O grito

Naquele silêncio ensurdecedor percebeu que não dava mais para agüentar! Foi preciso o silêncio daquela noite de lua cheia para que percebesse.
O silêncio a incomodava, não sabia lidar com isso. Gostava mesmo era de palavras, daquelas bem simples, mas cheias de significados. Apreciava aquelas palavras bonitas ditas em novelas, mas também sabia que na vida real, essas palavras raramente eram ditas com seu real significado. Na vida real, essas palavras eram vazias.
Entre palavras vazias e silêncio, aí sim, preferia o silêncio. O silêncio às vezes dizia mais do que as próprias palavras... É isso! O silêncio falava mais com ela do que as palavras! Não, isso não era bom. No silêncio, ela ouvira coisas das quais não queria saber! No silêncio ela sabia... Sabia que era seu momento. Era o momento de uma conversa franca consigo mesma. Era o momento da confissão de angústias, fantasias, medos e até daqueles sentimentos mais tolos que sentira em segredo.
Ainda assim, o silêncio não lhe agradava. Gostava de palavras e gostava de barulho. Mas não do silêncio. Era preciso quebrar esse silêncio. Numa noite tão bela como aquela de lua cheia, tinha certeza de que as palavras estragariam tudo. Minutos e minutos foram passando até que não agüentou! Quebrou toda a graça de seu momento, toda a graça do silêncio com um grito! Não...claro que também não seria um grito qualquer! Isso seria banal demais. Não poderia ser simplesmente ‘um grito’, tinha que ser ‘o’ grito!
Quietinha ali na varanda a observar a lua, deu um grito interno, quebrando o incômodo silêncio e a graça de seu momento. Foi um grito libertador, que a fez sentir-se mais leve e renovada. Tudo que estava inquieto dentro de si com o silêncio, pôde então se libertar e se tranqüilizar, pois sabia que a cada nova inquietação na mente ou na alma ela podia recorrer a algo interno - que mesmo sendo mudo, fazia o barulho necessário para quebrar o silêncio - e que era só seu, o grito!