domingo, 23 de novembro de 2008

A solidão humana

O ser humano está sempre em busca de alguém: de novos amigos, de um amor, de colegas de trabalho com quem possa descontrair um pouco, familiares hoje distantes, aquela antiga amizade, que pelas circunstancias se afastou, aquele antigo caso que antes era uma boa companhia...
Aos finais de semana, claro, sempre tem que ter a balada, ou a festa já marcada com antecedência para encontrar os amigos, se divertir e deixar de lado um pouco as preocupações da semana. Para quem tem alguém, tem aquele programa a dois, sempre indispensável.
É uma ânsia enorme em sempre ter o que fazer no seu tempo livre, quando não tem que se preocupar com trabalho e estudos e contas a pagar. É sempre preciso preencher esse tempo, para que não fique o vazio.
Esse vazio seria, na verdade, o ser humano sem si, em contato consigo mesmo e com suas angústias, fragilidades e sentimentos. O homem precisa sempre estar com alguém, ocupando este espaço e tempo vazio em sua vida, pois, muitas vezes, ele não sabe como lidar consigo mesmo.
É difícil pra muitos encarar o fato de que o ser humano é um ser sozinho. Ele nasce sozinho e morre sozinho. Os laços e as relações estabelecidas entre a vida e a morte, servem para tornar os momentos mais agradáveis e menos doloridos.
Mas a realidade é que por mais que se tenham amigos, colegas, um amor, familiares presentes, o ser humano é sozinho. É um indivíduo que deve aprender a lidar com sua singularidade, antes de relacionar-se com os outros.
Difícil o contato consigo mesmo, tendo que lidar sozinho com suas angústias, frustrações, alegrias, recordações, sentimentos... Estar sozinho consigo mesmo requer paciência, tempo e dedicação para lidar com o conteúdo que nós temos e que, muitas vezes, não nos damos conta.
A solidão humana é sentida, na maioria das vezes, com tristeza, devido às fantasias que se cria a respeito de uma vida ideal que se deve ter. Ao estar só, vem à mente toda aquela cena de pessoas felizes, reunidas, num bar, numa festa, nas ruas.
Nas relações que o homem estabelece para evitar lidar com sua própria solidão, acontecem coisas superficiais, onde não se entra realmente em contato com o outro, onde não se pode compartilhar sua solidão, pois na verdade, ninguém está interessado na solidão alheia. Já pode ser um fardo grande lidar com a sua própria, que quando em contato com o outro, ele quer mesmo é esquecer a palavra solidão e todo o significado que ela carrega e, naquele momento, ser preenchido pela fantasia de que ele não é um homem sozinho, de que ele tem alguém para compartilhar sua vida e seus momentos.
Que a solidão humana existe, é fato! Não há como fugir dela. A questão é como cada um lida com sua própria solidão. Pra uns é ótimo passar aquela sexta-feira à noite em casa, na companhia de um bom livro ou de um bom filme, pipoca e guaraná! É um momento único, de contato consigo mesmo que causa prazer. Pode ser prazeroso estar em nossa própria companhia e apenas desfrutar de si e de seus momentos. Porém para outros, a solidão pode ser triste, pois lidar consigo mesmo pode ser um fardo muito pesado. Entrar em contato com sentimentos pessoais, por tempos escondidos pode ser muito doloroso. O indivíduo perde-se em meio aos seus sentimentos e simplesmente não sabe o que fazer consigo, o que gera forte angústia.
Prazer ou angústia? São duas opções de como lidar com a solidão humana. A solidão pode ser prazerosa quando o contato consigo é bom e sentido como algo positivo, quando estar em sua própria companhia o satisfaz, o preenche, não necessitando de outros para que seja realizada a fantasia de que estar consigo mesmo é estar na ausência de outros, no vazio.
Quando o contato consigo é sentido como algo ruim, gerador de angústia, ele vem acompanhado de uma tristeza muito grande, pois está presente a fantasia da ausência do outro, do vazio. A ausência do outro é simplesmente a presença única de si mesmo, mas por não saber como lidar com sentimentos e angústias, surge a tristeza.
O estar junto, a relação com o outro é essencial para o desenvolvimento da psique humana, claro, porém quando isso é necessário a todo momento, quando não se consegue estar só, é porque o estar junto trata-se de um artifício para evitar o contato conosco mesmos.

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!"


Drummond.