quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O não dito

As palavras têm um peso tão grande em nossa vida. Pesam tanto que muitas vezes torna-se conflituoso decidir o que deve ou não deve ser dito. Na verdade muitas palavras devem ser ditas – afinal elas existem para serem usadas, mas desde que no momento certo e para a pessoa certa.
Difícil é quando não existe receptor para o que vai ser dito. Ou até existe, mas é alguém que só existe fisicamente, pois pouco lhe importa o que será dito. Aí palavras são apenas palavras! Mas o fato é que palavras nunca podem ser apenas palavras! Elas carregam um peso de significado tão intenso e complexo que quando ditas para ferir, o fazem melhor do que um tapa ou beliscão.
Saber ouvir, na verdade, saber escutar, é um dom. Como diz Rubem Alves: “Escutar é complicado e sutil”. Mas e sobre saber falar? Por que poucos se preocupam com o falar em si. Falar é coisa complicada também e é quase sempre um risco.
Existe o risco de se perder quando algumas palavras são pronunciadas, e quase sempre isso acontece não pela palavra em si, mas pelo significado que ela carrega ou pelo contexto em que são ditas. Porque no momento em que são ditas, elas se concretizam e muitas vezes ferem como pedrinhas coloridas que, quando criança se colecionava e às vezes se jogava na cara de alguém, de propósito mesmo, para machucar.
Mas existe também o risco de não se falar. Sim, existe o risco do silêncio. É que o não dito machuca às vezes também. E, dessa forma, afirma Lya Luft: “Vivemos nesses enganos, nesses desencontros, nesse desperdício de felicidade e afeto. No sofrimento desnecessário, quando silenciamos em lugar de esclarecer”. É um silêncio angustiante, ressentido e nele se acumulam amargura e incompreensão. A palavra não dita faz mal para quem as guarda para si. É como se uma bola sei lá do que e sei lá de que tamanho fosse se formando dentro do estômago e dá aquela dor, aquela ânsia inexplicável.
Mais do que saber escutar, como afirma Rubem Alves, é imprescindível saber usar as palavras. Elas fazem parte de nossa essência enquanto seres humanos e saber usá-las adequadamente é um aprendizado constante, pois com ela nos aproximamos do outro, nos entregamos ou nos negamos, acalmamos, ferimos e matamos.

*****

"Palavras e silêncio, que jamais se encontrarão" - Zeca Baleiro

7 inquietações:

ju. disse...

Eu sofro muito por isso. Já afirmei em outros que sou deveras confusa com essa coisa de 'palavras'.

Mas falar também cansa. Mais quando o receptor não responde e pior...não entende.

Já perdi muita gente por falar.
Já perdi muita gente por calar.

Entre um e outro prefiro falar pq essa dor no estômago é dolorida demais.

Katia Kadota disse...

Demoramos tanto tempo para entender que a palavra, apesar de ferir, seria o melhor remédio.

Ficamos um ano inteiro aguentando a dor na boca do estômago e aquele aperto no peito. E no final das contas nos privamos da nossa própria amizade...

ADOREI!!!

bjus
PS: nunca deixei de ler seus escritos...rs.

Gabriel disse...

O homem é um ser naturalmente social, então ele tem necessidade de interagir com as outras pessoas, e é aí que surge todo o problema e entra um pouco de filosofia no meio (risos), então vamos lá:

Afinal, a palavras têm um sentido tão fixo e limitante. Que as vezes, a palavra dita não tem o sentido desejado.

Mas e quando precisamos dizer? Seria melhor silenciar então? E não seria tão ou mais doloroso guardar aquilo para si?

Isso é tão complexo que acho que só fiz levantar mais perguntas (risos).

Gostei do seu texto, senhorita Tatiana, me fez pensar bastante.

Beijão pra ti!

Gabriel disse...

PS.: Ah, e adicionei o seu blog à lista de blogs do meu.

Já deveria ter feito isso antes, mas vivo tão ocupado, que acabo neglingenciando certas coisas hahaha

Beijão.

Dia 10 disse...

As pedrinhas coloridas são as bolinhas de gude?

Anônimo disse...

Ah, confesso que esse eu nõ lí
EHAUSHUEHAUHSE

Calcanhar de Aquiles disse...

É fundamental o cuidado com a palavra.
Seu texto me fez pensar sobre um texto meu postado no blog que se chama "Disse que ..."

Como seu texto me fez bem ...
Obrigadíssimo.
Abração amigo sempre.